Brasil ao vivo: conhecimento de valor inestimável – Nosso Idioma
Tudo o que eu sonhava era poder ensinar português para falantes de outros idiomas. Um dia, sem esperar, recebi um telefonema de minha orientadora dizendo que havia indicado meu nome para concorrer a uma vaga como Professora de Língua Portuguesa (variante brasileira) em uma universidade nos Estados Unidos.
É claro que em minha mente, a universidade poderia ser na Flórida, pois é um estado que eu já conhecia e também mantinha contato com a atual AOTP. Passei por entrevistas e finalmente fui aprovada para a vaga em uma universidade no estado da Virgínia. Iniciei minha jornada em agosto de 2008.
Tudo foi muito interessante, mas o passo principal foi desenvolver cursos de Língua/Cultura, para que os estereótipos referentes aos brasileiros fossem melhor entendidos.
Nas aulas, falávamos sobre os costumes, sobre palavras iguais com significados diferentes dependendo da região do Brasil, sobre a entonação, entre outros. Usávamos os recursos da Internet e pequenos vídeos para ilustrar, o que criava uma dimensão de língua/cultura brasileira incontestável na sala de aula; visitávamos restaurantes brasileiros, igrejas da comunidade brasileira e academias de capoeira. Com a falta de livros da literatura brasileira, pensei então em formar uma pequena biblioteca, com os diversos títulos que consegui adquirir durante os meus quase 25 anos de magistério.
No primeiro semestre letivo de 2008, tivemos a criação do Clube Brasil, o qual passou a vigorar em 2009 com eventos, atividades interculturais com a divulgação do Study Abroad para o Brasil.
Em 29 de maio de 2009, pudemos, eu e um pequeno grupo de sete estudantes, viajar para o Brasil, para conhecermos São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Um período de 31 dias de pura imersão na língua/cultura brasileira.
Quero dizer que na visita a São Paulo, minha cidade natal, aproveitei a ocasião para levar os estudantes ao Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca do Estado, livraria Cultura, Museu do Ipiranga, Parque do Ibirapuera, além de levá-los à USP, com a qual auxiliei na elaboração um convênio que deu aos estudantes a possibilidade de estudar um módulo de 36 horas e de receber um certificado.
Nossas aventuras em São Paulo foram além do esperado; andamos de trem, metrô e ônibus, para observarmos como vivem os brasileiros, ouvi-los e interagirmos de maneira simples, e assim testar o que foi aprendido em sala de aula. Também selecionei 35 livros de literatura, de minha coleção, para levar à universidade e iniciar nossa biblioteca de títulos da Literatura Brasileira.
Todos estavam encantados com São Paulo, mas já prontos para conhecer Minas Gerais e o tão sonhado Rio de Janeiro. Partimos para mais uma aventura no tempo, nós e nossos 35 livros.
Em Minas, fizemos o Roteiro dos Bandeirantes – algumas cidades da Estrada Real – visitando Ouro Preto, Mariana, Congonhas. Todos nós aprendemos muito com as diferenças regionais, a fala vagarosa, diferente do ritmo da fala das pessoas de São Paulo e da vida cotidiana paulistana. Visitamos igrejas, museus, restaurantes, lojas de pedras preciosas, rios, cachoeiras, montes e muitos lugares pitorescos. Fomos às festas locais e cinemas – experiências sem descrição.
Finalmente…Rio de Janeiro!!!!!!! Todos os olhos brilhavam naquela manhã, e durante o percurso, passamos em Petrópolis e paramos dois dias para conhecer o Museu Imperial, a casa de Santos Dumont, o que gerou um debate muito sadio sobre Santos Dumont e os irmãos Wright. Conhecemos também outros pontos da cidade.
No caminho para a cidade do Rio de Janeiro, todos estavam em silêncio aguardando o momento da entrada na cidade. Ao chegarmos, fomos para a Praia do Botafogo e nos instalamos em um hostel. Foi muito bom porque conhecemos estudantes de várias partes do mundo que falavam português. Chegamos no dia 25 de junho e como era o dia de meu aniversário, os estudantes resolveram combinar com o motorista de fazer uma surpresa para mim. O motorista que nos acompanhava desde São Paulo, já conhecia muito bem o Rio, então combinaram de me presentear com um jantar em um bar de roda de samba, na Lapa.
Com exceção da mala de livros que estava guardada embaixo do banco, por não haver espaço no quarto, as malas foram retiradas da van. Fomos à Lapa e passamos por momentos muito agradáveis. Todos conheceram pessoas diferentes, dançaram, tentaram cantar e entender o que estava sendo cantado e me deixaram muito feliz e orgulhosa. Saímos à uma e meia da manhã rumo ao hostel, mas para nossa surpresa…a van tinha sido arrombada e a mala com os 35 livros havia desaparecido. Ficamos muito tristes e também pensamos na surpresa que a pessoa que levou a mala iria ter ao abrí-la e ver que o conteúdo era de livros de literatura (triste, mas ao mesmo tempo hilário!!!!).
Eu, particularmente, fiquei muito triste, pois este era um material que eu considerava de valor inestimável, adquirido ao longo do tempo, mas este fato não tirou a ideia de encanto que o Rio trazia.
Nos dias que se seguiram, fomos a outros bares, casas de shows, discotecas, praias diferentes, Floresta da Tijuca, Cristo Redentor, Pão de Açúcar e Jardim Botânico. Passamos pelo Complexo do Alemão e outras comunidades. Todos ficaram muito encantados com as amizades que fizeram e com a maneira de falar e viver do carioca.
Quando o Study Abroad terminou e já estávamos nos preparando para retornar para os USA, os estudantes já faziam planos para voltar ao Brasil para estudar ou fazer trabalhos sociais.
Partimos do Brasil com a mala cheia de lembrancinhas e a alma repleta de conhecimentos que foram partilhados durante a viagem. Perdemos 35 livros, mas ganhamos experiência, vivenciamos a história, a língua, os hábitos, conhecemos os cheiros e os sabores, as cores, as dimensões, ouvimos as músicas e pudemos perceber os falares do brasileiro.
Pensando bem, se colocarmos na balança, talvez os ganhos tenham sido maiores que as perdas e o que conta mesmo é o respeito que aprendemos a ter pelas diferenças sociais e culturais, que passaram do plano abstrato para o concreto fortalecendo ainda mais os valores de cada um de nós.
Quer saber mais sobre as mudanças de perspectivas através da experiência de imersão, consulte:
• “Toward Ethno relativism: A Developmental Model of Intercultural Sensitivity” by Milton Bennett, in Education for the Intercultural Experience, Intercultural Press, 1993.
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