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Sugestões de leitura: alguns livros para criança publicados no Brasil – Nosso Idioma

Com tantos livros destinados a crianças e jovens sendo publicados ultimamente, às vezes quem quer dar um livro de presente ou trabalhar uma obra literária com alunos fica sem saber o que escolher. Sugerimos a seguir algumas obras publicadas no Brasil em 2012, que receberam o selo Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), em 2013.

As obras listadas neste artigo costumam figurar nas listas das editoras, como livros indicados para crianças entre 8 e 11 anos. Porém, sabemos que qualquer indicação de leitura depende de vários fatores, como maturidade do leitor (não apenas idade), nível e objetivos de leitura, dentre outros. Esperamos auxiliar na tarefa da escolha de vocês.

VILELA, Fernando. Caçada. Ilustrações de Fernando Vilela. São Paulo: Scipione, 2012. Tudo neste belo e inusitado livro é diferente, e é difícil definir o que mais se destaca: o formato horizontal, as cores fortes das xilogravuras, o relevo de algumas ilustrações, a capa com um título que parece em movimento (e esse movimento se repete no virar das páginas), o predomínio do vermelho-sangue, as imagens de artilharia de guerra, a ausência de comunicação entre dois sobreviventes que não queriam lutar entre si. O mérito da ilustração consiste não só na beleza mas também na pertinência na escolha da técnica, que mescla xilogravuras a imagens de artilharia aérea.

Este livro nos faz pensar na necessidade de manter o espírito de humanidade, mesmo em tempos de horror. O tema brutal da guerra – que vez por outra nos assombra -, da iminência da morte, perturba o leitor desde o início, quando um dos personagens, americano, fica chocado ao perceber que bombardeou uma escola cheia de crianças. O outro personagem, de origem árabe, questiona o porquê de estar na guerra, pois transformara-se de caçador em soldado, e as aves que abatia agora eram aviões. O encontro desses dois homens, envolvidos numa guerra até aquele momento contra um inimigo invisível, deixa-os desnorteados. Até mesmo a situação inusitada – quase trágica – no final dessa história comovente colabora para criar o clima de desespero e, ao mesmo tempo, esperança, típicos de épocas em que tiros e mortes dão o tom das relações humanas. Ao final da leitura, o leitor, sobressaltado e aliviado, comemora o voo livre do gavião, antes vítima do caçador, que não mais precisa temer a morte.

OLIVEIRA, Rui de. Quando Maria encontrou João. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. Neste livro de imagens, uma “parábola sobre o tempo e o amor”, como o próprio autor e ilustrador nos apresenta o livro, somos surpreendidos a cada traço pela intertextualidade e pela trama que ora afasta, ora aproxima João e Maria. As crianças, em vez de serem deixadas na floresta, se encontram por acaso e resolvem brincar de pique-esconde. A brincadeira, porém, termina sem que eles se encontrem, e a busca só é retomada décadas mais tarde.

A floresta aqui se mostra um lugar perdido no tempo e no espaço, marcado pela passagem dos anos, mas impenetrável pela busca incessante dos dois personagens. Uma árvore labiríntica e escura inicia o livro e muda de cor ao final, anunciando mudanças. A sensação claustrofóbica da floresta, os tons escuros e as sombras da maioria das páginas contrastam com as páginas finais, marcadas pela amplidão, cheias de alegria e claridade, anunciando um final feliz esperado por toda uma vida.

CANTON, Katia. Beijo de artista. São Paulo: Cosac Naify, 2012. Beijo de artista nos apresenta um olhar curioso da arte: beijos em pinturas, fotos, esculturas, apresentados com grafismos, cores e movimentos diferentes. O resultado é uma história da arte por meio dos mais variados beijos, da antiguidade clássica aos dias atuais. Assim, Michelangelo e Beatriz Milhazes, Rodin e Munch, Robert Doisneau e Tsang Cheung Shing, dentre outros, surgem neste livro, que apresenta ao leitor um olhar bastante plural sobre as artes plásticas.

A autora, Katia Canton, já vem publicando outras obras sobre arte e moda para crianças, e o livro Beijo de Artista vem se somar às demais obras, colaborando para a formação estético-artística do pequeno leitor, que muitas vezes sequer visitou algum museu. Aproximando o leitor da arte, a autora, neste livro, não apenas colabora para a divulgação das artes plásticas, mas apresenta um olhar abrangente e temático que nos mostra, dentre outras coisas, como o belo ultrapassa fronteiras e limites estéticos.

ANTUNES, Arnaldo. Cultura. Ilustrações de Thiago Lopes. São Paulo, Iluminuras, 2012. Cultura é um livro que alia poesia e ludismo – marcado nos versos e reiterado pelas ilustrações. O breve texto propõe um jogo de palavras e uma associação de ideias com animais variados: “ O camelo é um cavalo sem sede./Tartaruga por dentro é parede.”. As ilustrações em aquarela dialogam de maneira criativa com os versos, e a intertextualidade com obras de arte está presente na capa e na contracapa. É, enfim, um livro que nos proporciona momentos divertidos de leitura.

*Leonor Werneck dos Santos. Profa. Dra. de Língua Portuguesa pela UFRJ, onde também ministra disciplinas no Curso de Especialização em Literatura Infantil e Juvenil. Membro do Júri do Prêmio da FNLIJ, desde 2013.

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